sexta-feira, 15 de abril de 2016

Tralha Digital, privacidade online e demasiadas contas



Na minha viagem pelo minimalismo descobri que a tralha física não é a única que nos ocupa o pensamento e nos atrasa no quotidiano. A tralha psicológica e a tralha digital também nos podem fazer sentir mais preguiçosos pela sua mera presença, atrasam a nossa produtividade e basicamente incomodam. Neste texto vou falar da tralha digital e deixo a tralha psicológica para outra altura.

Um dos passos para uma vida mais simples passa por eliminar a tralha digital que sem dúvida já acumulamos ao longo dos anos. Com a Internet a fazer parte do meu quotidiano há bem mais do que uma década, sei que já acumulei imensas contas, e-mails, newsletters, blogs e outros fantasmas digitais que nunca mais vou precisar ou seque me irei lembrar que existem. O que é verdade para mim com certeza é verdade para muitos de vós.

O que é, então, a tralha digital?

São todos os ficheiros ou programas ou e-mails ou ícones que nos atafulham o computador, o telemóvel ou o browser e que nos distraem, mesmo sendo inúteis e/ou desnecessários.

São as fotografias duplicadas ou desfocadas ou completamente descontextualizadas; são as músicas que nem sabemos como é que chegaram à nossa biblioteca porque nunca sequer ouvimos falar do autor; são os documentos banais de há 7 anos atrás quando estávamos a fazer uma formação de 4 horas; são os programas complementares da máquina fotográfica, da impressora, do telemóvel, que constantemente actualizamos mas nunca usamos.

O que posso fazer para diminuir a minha tralha digital?

Tralha digital é um problema grande. Não tão grande como a tralha física (muitos de nós sabe bem o efeito que uma secretária cheia de papéis ou um móvel completo de bibelots nos pode fazer ao espírito!), mas um problema na mesma. 

Segue, então, abaixo uma pequena lista de como começar por destralhar o nosso mundo digital. O processo pode ser longo e possivelmente nunca estará completo porque, por exemplo, a possibilidade de haver contas que já não conseguimos aceder é muito alta. Poucas são as pessoas que sempre mantiveram o mesmo username ou o mesmo e-mail desde que se iniciaram na Internet, até porque isto começa sempre por ser um processo de adaptação e de experimentação e todos nós já passamos pela fase dos e-mails embaraçosos e do nome de contas infantis ou demasiado pessoais com informação que devia ser privada, como por exemplo o nosso nome completo ou o nosso n.º de telefone.

Já todos passamos por isso, não és a única pessoa assim, mas eu posso tentar ajudar!

  1. Limpar e organizar as pastas do computador. Por esta ordem.
    A forma mais fácil de fazer isto é num dia sem muito para fazer, em que possa dedicar alguma tempo à tarefa. Respire fundo e abra a pasta de música ou vídeos primeiro. São as pastas mais fáceis de limpar, na minha opinião, e dão-nos momentum. Comece por pôr os ficheiros organizados por data de modificação. É a melhor forma de tratar deste tipo de situações porque nos dá logo ideia de quando foi a última vez que mexemos na pasta ou quando é que a criamos.

    Quando organizamos por data de modificação percebemos se uma música/álbum/vídeo vale a pena ou não manter, porque vemos se nos lembramos dela, se gostamos dela e a temos ouvido/visto nos últimos tempos ou não ou se não nos diz nada e é um delete óbvio.

    Depois de analisar a pasta da música e vídeo, eliminar tudo o que não amamos nem nos traz felicidade, passamos para a fase de organização. Na pasta música, opto por ter tudo organizado pelo nome do álbum e as músicas soltas ficam simplesmente na pasta geral.

    Depois vêm os documentos. Aqui, analise pasta a pasta, veja quais os ficheiros que estão obsoletos, quais os que já não são importantes para o seu quotidiano, quais as informações que pode simplesmente passar para o Evernote e quais os documentos verdadeiramente importantes que devem estar também na nuvem.

    Aproveite e analise também a pasta das imagens, que tende a ser a mais sentimental. Por preferência, opto por manter todas as fotos em que estejam pessoas que eu gosto (ou já gostei! haha) e que não esteja desfocada ou que não saiba já do que se trata por falta de contexto. No fim, pessoalmente opto por organizar as imagens por pessoas (Amigos, Família, Namorado) e dentro de cada uma por anos. Também tenho uma foto chamada "Aleatórias" porque simplesmente não tenho como enquadrar fotos antigas do meu quarto, a vista da minha aldeia quando era nova ou o ramo lindíssimo que o meu namorado me eu antes de eu ir em Erasmus.

    Por fim, abra a lista de programas e desinstale todos aqueles que a) já não sabe para o que são ou b) já não usa há mais de 6 meses. Isto permite libertar algum espaço no computador e provavelmente ajuda também nos ambientes de trabalho mais atafulhados, daqueles que nunca enviam para a reciclagem os atalhos.

  2. Limpar e organizar as pastas do disco externo. Formatar o disco se possível.
    Nesta situação, alguns dos ficheiros e pastas do seu computador estão em duplicado no disco externo. Tente perceber se vale a pena voltar a analisar essas pastas ou se prefere fazer como eu e simplesmente apagar o que tem no disco, formatá-lo e passar apenas aquilo que tem mesmo de ser móvel, que tem de ser protegido para o caso do computador fritar ou que não iria conseguir encontrar novamente na Internet (vem-me à cabeça um vídeo de uma  proclamação de um poema nos tempos do MySpace).

  3. Apagar e deixar de estar subscrito a newsletters que não trazem valor ou que não são lidas.
    O GMAIL ajuda imenso nesta tarefa porque sempre que enviamos alguma newsletter para o SPAM pergunta-nos se queremos deixar de ser subscritores dela. Se preferir ter a certeza de que já não segue mesmo a newsletter, pode sempre abrir o e-mail e, no final deste, seleccionar a opção de deixar de ser subscritor.

    Geralmente este link leva-nos para um novo separador no navegador e podemos inserir a nossa informação ou o próprio site faz isso automaticamente. Se nenhum desta opções acontecer, pode optar por responder directamente à newsletter e por e-mail pedir para o seu e-mail ser retirado da lista de contactos.

  4. Ler e organizar a caixa de correio.
    Para mim este ponto é o mais difícil porque a minha conta tem mais de 10 anos, desde que andava no secundário e, portanto, acumulou muita coisa que tem valor sentimental (questionários de amigos sobre mim, histórias escritas por amigos, conversas privadas naquela altura estranha entre o MSN e o Facebook...). O principal aqui é livrarmos-nos primeiro dos e-mails de publicidade, informação desactualizadas e de compras de há mais de 1 ano.

    Após essa limpeza mais geral, sugiro começar por identificar quais os e-mails que mais recebem e quem são os seus principais remetentes. Se, como eu, recebem e-mais agregadores de artigos (no meu caso, são principalmente as respostas no Quora), vejam até que ponto é que precisam de guardar isso (resposta: não precisam).

    Na grande maioria das vezes toda a informação que não é apenas pertinente para vós ou para um grupo muito pequeno de pessoas é facilmente acessível na Internet. Estamos na era digital, conseguem encontrar a resposta à maioria das perguntas no Google, no Bing ou no motor de busca que preferirem. Aproveito para dar a dica de que o DuckDuckGo é um motor de busca que não guarda a vossa informação, já que estamos num texto sobre privacidade.

  5. Procurar contas antigas ou obsoletas num motor de busca de usernames como por exemplo o checkusernames.com
    Passei uma tarde a lidar com isto e é muito catártico. Encontramos contas antigas, que nos dão uma janela ao passado e como lidávamos com a Internet e com a vida há vários anos atrás, e percebemos a nossa evolução (que, sinceramente, não é só uma evolução de personalidade característica do avançar da idade, mas também reflecte como é que a Internet é interpretada hoje em dia em contraste com, por exemplo, 2005).

    Comece por avaliar se a conta ainda é relevante (como, por exemplo, no LinkedIn ou no About.Me) e se vale a pena actualizar a informação, ou se é melhor perder o menos tempo possível com ela e apagar os dados todos. Pessoalmente, gosto de acabar com as contas da forma mais definitiva possível: apago toda a informação manualmente e só depois desactivo ou apago a conta.


E aqui estão. 5 dicas para dar algum semblante de privacidade online e para destralhar o computador no processo. Muitas vezes não nos apercebemos da quantidade de informação que partilhamos e que tornamos pública. Os vossos dados não estão apenas no Facebook. Sempre que informam da vossa data de nascimento, do vosso sexo, da vossa cidade e dos vossos gostos na inscrição num website, estão a pôr em risco essa informação e, como dizia o MadEye Moody no Harry Potter, é preciso ter VIGILÂNCIA CONSTANTE!

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